O Paraná teve queda de 27% nos números de homicídios dolosos de janeiro a setembro de 2024, comparando com os dados do mesmo período do ano passado. Apesar disso, 25 cidades analisadas ainda apresentam alta, algumas delas em regiões como o litoral do Estado e a Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Os feminicídios também se tornaram motivo de preocupação.
Os números foram apresentados nesta terça-feira (8), em coletiva na Secretaria Estadual da Segurança Pública do Paraná (Sesp-PR). O balanço faz parte das ações da Operação Vida Cidade Segura no Estado. Foram 45 municípios analisados e, no somatório destas cidades, houve a redução de 22% dos homicídios dolosos, em setembro.
Conforme o secretário da Segurança Pública do Paraná, Hudson Leôncio Teixeira, a operação permitiu que a Sesp conseguisse mapear e formar a estatística da principal motivação dos crimes. A partir de agora, o trabalho vai ser mais focado na diminuição.
“Nós temos tudo isso mapeado, temos a estatística da motivação do crime, então estamos trabalhando de forma bem objetiva. Sabemos quais são as motivações e para cada motivação vamos aplicar um tipo de policiamento para coibir. O foco dessa operação é fazer com que homicídio não ocorra”.
disse Hudson Leôncio Teixeira, secretário da segurança.
Entre as regiões mais preocupantes está o litoral do Paraná. Cidades como Antonina, Pontal do Paraná, Matinhos e Paranaguá aparecem entre as que tiveram aumento nos índices de homicídios.
“Nós temos dados que nos chamam a atenção, nos preocupam, mas não estão fora de controle. O litoral do Estado é uma das regiões, parte da região Noroeste nos chama a atenção e estamos aqui para ver que ponto precisamos melhorar para que não tenhamos ocorrências dessa natureza”
comentou Hudson.
Segundo Hudson Teixeira, as facções criminosas têm sido motivo de preocupação, principalmente no que diz respeito ao objetivo de fazer com que parem de agir.
“Temos algumas questões de comando vermelho, pgc e pcc. Isso tudo foi mapeado pela Polícia Civil, pela Polícia Penal e a PM está trabalhando onde existem estes focos de rivalidade. Não sabemos [quando acaba], mas estamos trabalhando para isso, a prova é que estamos reduzindo os números, e as polícias estão agindo de forma estratégica onde é necessário”
detalhou o secretário.
Além do litoral e do Noroeste, como citou o secretário, cidades da Região Metropolitana de Curitiba (RMC) também tiveram alta. Pinhais, por exemplo, foi a que mais viu os números subirem.
“Nós temos algumas, mas é importante salientar que apesar de alguns números apresentarem uma crescente, no geral houve uma redução. A RMC tinha números muito ruins e graças ao trabalho dos delegados e comandantes, diminuiu muito”
disse Hudson Leôncio Teixeira.
Veja as cidades com maiores números de homicídios:
Cidade | Porcentagem do aumento | 2023 | 2024 |
Jataizinho | 600% | 1 | 7 |
Antonina | 250% | 2 | 7 |
São Miguel do Iguaçu | 200% | 2 | 6 |
Pontal do Paraná | 150% | 6 | 15 |
Mandaguaçu | 140% | 5 | 12 |
Pinhais | 100% | 6 | 12 |
Santo Antônio da Platina | 60% | 5 | 8 |
Paiçandu | 75% | 4 | 7 |
Maringá | 45,5% | 22 | 32 |
Santa Terezinha de Itaipu | 40% | 5 | 7 |
Matinhos | 33,3% | 9 | 12 |
Jacarezinho | 33,3% | 6 | 8 |
Telêmaco Borba | 27,3% | 11 | 14 |
Sarandi | 21,1% | 19 | 23 |
Ponta Grossa | 18,3% | 60 | 71 |
Assis Chateaubriand | 16,7% | 6 | 7 |
Reserva | 11,1% | 9 | 10 |
Apucarana | 11,1% | 18 | 20 |
Medianeira | 9,1% | 11 | 12 |
São José dos Pinhais | 6,5% | 31 | 33 |
Paranaguá | 5,8% | 52 | 55 |
Cascavel | 4,1% | 49 | 51 |
Guarapuava | 3,7% | 27 | 28 |
Almirante Tamandaré | 3,6% | 28 | 29 |
Curitiba e o tráfico de drogas
Em Curitiba, a Polícia Civil sabe que a maioria dos homicídios são motivados pelo tráfico de drogas. Conforme a delegada Camila Cecconello, da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), mais de 70% dos homicídios.
“São motivados pela disputa pelo controle do tráfico e isso se repete também nas grandes cidades do Paraná, segundo as nossas estatísticas. Então o que a Polícia Civil vem trabalhando é para mapear esses grupos criminosos que disputam a liderança pelo tráfico e realizar o mais rápido possível, através de um trabalho de inteligência com o apoio do Judiciário e do Ministério Público, a prisão dessas pessoas envolvidas nessa guerra”.
destacou a delegada Camila Cecconello.
Entre os bairros com maior incidência de mortes por conta do tráfico, segundo a delegada, estão a Cidade Industrial de Curitiba (CIC), o Sítio Cercado, o Parolin, a Vila Torres, o Caximba e o Tatuquara.
“São bairros onde existe maior número de crimes violentos, de homicídios, que também são os bairros, não por coincidência, onde existe também o maior número de denúncias por tráfico de drogas”
comentou a delegada.
Conforme a delegada, trabalhar para coibir esses crimes é complexo, mas possível.
“Há meios da polícia trabalhar para conseguir diminuir esses homicídios. Uma das formas é mapear as regiões onde existe esse tráfico de drogas e ter a presença constante da polícia nessas localidades. Isso a gente já faz através de operações constantes da PM e da Polícia Civil. Então a presença constante da polícia nesses locais, evitando a venda de drogas estando presente. E também esse mapeamento dos responsáveis pelos crimes, pela maioria dos homicídios, e a rápida prisão deles, porque prendendo essas pessoas e conseguindo fazer uma operação ampla de inteligência também em cima das biqueiras, dos pontos de tráfico, acaba tirando o poder econômico, o poder desses grupos que disputam essas lideranças do tráfico”
comentou a delegada Camila Cecconello.
Queda nos números
Em contrapartida, as ações mais presentes da operação nas cidades analisadas pela Sesp fizeram com que os números caíssem. Quedas do Iguaçu, por exemplo, teve queda de 86,7% dos homicídios dolosos: de 15 mortes em 2023 para 2 em 2024.
O secretário explicou que regiões onde existam guerras entre grupos rivais, como o litoral do Paraná, costumam ter índices mais altos. Mas ainda assim os números podem ser vistos com bons olhos.
“Onde existe uma guerra, disputa de espaço, existe maior número de homicídios, então por isso que estamos trabalhando. Neste ano, nos últimos 10 anos, em números absolutos, é o menor índice de homicídios no litoral do Paraná”
disse Hudson Teixeira.
Veja os números de queda nos homicídios:
Cidade | Porcentagem da queda | 2023 | 2024 |
Quedas do Iguaçu | 86,7% | 15 | 2 |
Umuarama | 76,5% | 17 | 4 |
Santa Helena | 42,9% | 14 | 8 |
Francisco Beltrão | 41,7% | 12 | 7 |
Araucária | 40% | 15 | 9 |
Londrina | 39,7% | 58 | 35 |
Campo Mourão | 31,8% | 22 | 15 |
Mandaguari | 28,6% | 7 | 5 |
Foz do Iguaçu | 27,1% | 59 | 43 |
Prudentópolis | 25% | 8 | 6 |
Fazenda Rio Grande | 25% | 20 | 15 |
Toledo | 25% | 16 | 12 |
Colombo | 24,1% | 29 | 22 |
Marechal Cândido Rondon | 22,2% | 9 | 7 |
Campo Largo | 17,6% | 17 | 14 |
Piraquara | 15,8% | 19 | 16 |
Curitiba | 12,7% | 150 | 131 |
Feminicídios preocupam
O aumento no número de feminicídios, na comparação entre 2023 e 2024, é preocupante. Isso porque, segundo o secretário, não é uma questão só do Paraná.
“Feminicídio tem um número elevado em todo o país e em nosso Estado não é diferente. Temos a campanha Mulher Segura, onde houve aumento nas denúncias de crimes de violência, a mulher está sendo encorajada a denunciar. Estamos trabalhando de forma muito pontual para evitar”
comentou o secretário da segurança.
Ainda conforme o secretário, nos municípios onde a campanha Mulher Segura está sendo aplicada, houve uma redução de mais de 30% no número de feminicídios.
“Então agora vamos abrir essa operação para outros municípios. Diferente do homicídio de guerra de facção ou de tráfico de drogas, o feminicídio ocorre de forma dispersa pelo Estado todo”
concluiu Hudson Teixeira.