- Duplas continuam não suportando o sucesso da cantora pop, que é a única ‘ameaça’ ao gênero dominante no Brasil
Foi um momento bonitinho o choro da cantora Ana Castela, que passou a ser seguida por Anitta nas redes sociais. A sertaneja ficou toda emocionada e disse que isso — ser notada pela colega carioca — é um “sonho de infância”.
Sem dúvida, isso é mesmo algo muito legal para um artista iniciante, como é Ana. E não é o caso aqui de transformar isso em algo negativo, porque não é mesmo. Acontece que essa festa da sertaneja em relação a Anitta demonstra — mesmo que sem intenção — um pouco o sentimento de vira-lata do sertanejo, principalmente quando o assunto é a cantora pop dona de vários hits (alguns internacionais, inclusive).
A emoção de Ana Castela parece ser genuína, e ela tem todo o direito de expressar isso, mas, olhando mais profundamente, mostra também a necessidade da “aprovação” que tem de Anitta. É como se fosse um “vai lá, gata. Você é boa”, um tipo de reconhecimento do talento da sertaneja pela maioral do pedaço, que é Anitta.
No passado recente, isso acontecia quando um artista novato era notado por Caetano Veloso ou Roberto Carlos. A banda, o cantor/a cantora se desmanchava de emoção. Atualmente, é Anitta quem tem de dar todas as aprovações à novíssima geração. E ela que os mais jovens têm de impressionar.
Ana nem percebeu que “passou recibo” para a cantora pop. Veja, a artista foi anunciada há alguns dias como a cantora sertaneja mais ouvida do Brasil e passou Marília Mendonça. Quer dizer, ela não tem necessidade de nenhum tipo de aprovação de Anitta. E, de novo, foi um momento legalzinho de Ana esse choro e a alegria por ter sido seguida pela colega de profissão. Só que, mesmo sem querer, escancarou o vira-latismo do sertanejo.
Quem demonstrou o sentimento de vira-lata original, raiz, e que realmente acusou o golpe foi Zé Neto, em 2022, quando soltou uma crítica velada a Anitta ao dizer que “não precisa de tatuagem nem de Lei Rouanet” para chamar atenção. Um ataque gratuito que foi uma grande oportunidade de o cantor ficar de boca fechada, já que causou uma confusão gigantesca e discussão sobre os altos cachês recebidos pelas duplas vindos de prefeituras pequenas.
E a crítica a Anitta aconteceu, obviamente, porque ela é hoje a única artista brasileira que consegue fazer algum tipo de frente ao domínio avassalador da mídia feito pelos músicos sertanejos. Só ela consegue disputar com as duplas as posições mais elevadas das paradas musicais. Ela sempre está por ali, destoando da turma rural.
E isso incomoda muito, até porque os cantores sertanejos percebem que TVs, rádios, tocadores de música e outros meios de comunicação dão muito mais destaque à cantora carioca do que a eles. Certamente os sertanejos enxergam isso como uma injustiça — afinal, como é que pode? São sempre eles que dominam tudo por aqui, não é mesmo?
Só que é aquele negócio, né? Anitta tem relevância; os agroboys, não.
Aposto que tem por aí muita dupla sertaneja com certa raiva de Ana neste momento por seu choro de emoção por Anitta. Certeza que tem uns ruralistas reclamando dessa “passada de recibo” para a eterna rival das paradas.
E olha que isso não fica só entre os sertanejos, não. Há outros tipos que também reclamam de Anitta e seu sucesso/exposição. Só cito um deles aqui: o nome começa com “La” e termina com “Tino”.